Peço licença a Cora Coralina e um dos seus
poemas para organizar o que ainda está grudado na pele e no ouvido pedindo
síntese desses tempos tão difíceis. São cultivos de humanidade, manejos da
gente mesmo, reforma agrária do chão das nossas relações e organizações. Depois
de 1 ano de distanciamentos, perdas e “lives”, reuniões e trabalho remoto: o
que aprendemos? no que ficamos melhores? o que temos a oferecer à luta urgente
da defesa da vida e da terra?
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Querem nos destruir... não há nenhum
fatalismo ou vitimismo nessa afirmação. Há um projeto político em curso que
quer destruir as formas organizadas de resistência, exterminar os coletivos de
organizar o mundo, fazer desaparecer as comunidade de afirmação de direitos,
diversidade e beleza. Nossa primeira resolução e oração é: não vamos ser
destruídas.
Reconhecemos nossas fragilidades e
oscilações mas reconhecemos também a nossa capacidade histórica de resistência
e de construção de processos políticos desde a base, po-éticas novas. Afirmamos
nossa sebedoria aprendente: de avaliar e fazer
crítica e autocrítica. Nosso ajuntamento de ação e a capacidade
organizativa, de mística e de utopia movedora de futuros. Não abrimos mão da
luta presencial: agregamos o espaço virtual com antecipação e espera.
Recria tua vida, sempre, sempre.
As relações
sociais de partilha, de conhecimento e exposição ao diferente faz das nossas
vidas, nossas “lives”, nossas trocas virtuais e “ao vivo” um laboratório vivo
de testemunhos e experiências que se oferece como estrutura e mediação para a
pergunta - até quando ? como podemos vencer? – e a afirmação – não passarão!
Precisamos ir
fazendo um processo coletivo de sistematização não de experiências acabadas,
mas de processo de organização consciente, de processos e metodologias para o
enfrentamento do fascismo, dos fundamentalismos e do capitalismo exterminador.
Abençoadas nossas conversas virtuais e seus movimentos de escutar e dizer,
receber e dar, explicitar conceitos, visualizar núcleos de sentido da prática e as vias de respiração da narrativa. Como vamos
juntar tudo isso? Uma “live” + outra “live” vira o que depois? Como criamos
acúmulos aprendentes?
Tudo e cada isso
precisa ir gerando consensos para além dos temas: estas nossas conversas,
vídeos e seminários precisam ir buscando as formas da sistematização recriadora
capaz de gerar a “frente de massas” que precisamos ser.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
As trocas
materiais e simbólicas que vão acontecendo durante a pandemia como movimento de
preciosos músculos do coletivo, do organismo social vivo, pensante, orante e
tomador de decisões. Palestras, celebrações, cursos, debates: as trocas
estabelecidas em momentos definidos.
Me diz sua vida
e recebe a minha! Receitas e roseiras necessárias e cotidianas que dão
consistência histórica e densidade política para o projeto popular e
democrático, inclusivo e transformador que queremos saber ser e fazer. Quando e como vamos processar o que ouvimos e vimos?
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
As mesquinharias das relações ruins, dos
poderes absurdos também nos rodeiam: ainda somos reféns de poderes não
circulantes, de arrogâncias atropeladoras de processos. Mesquinharias de
disputas de poder. Mesquinharias de tráfegos de influências que precisam ser de
novo e de novo passadas pelo crivo da espiritualidade, dinâmica de crítica e de
perdão que torna possível a vida comunitária.
Profecia e Poesia como estrutura e método
do movimento popular e suas ambigüidades, entre o que é e o que deseja ser. Entender
as “lives” e os “ao vivo” como fila do
povo e trabalhos de grupo que vão misturando “causo”, denúncia e profecia, numa
crítica necessária e precisa sobre a conjuntura e nossas organizações (burocracia,
hierarquias, mesquinharias, manias) e que só no exercício do poder popular pode
ser elemento de constante recriação.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Nossos vivos e nossos mortos, nossas memórias de santas pessoas que vivem no coração de jovens. Uma militância insistente vai se renovando sem tirar os olhos das marcas vivas e os nomes gritados como aprendizado. Pode que seja que minha geração já não será nem verá as formas de luta e reinvenção que vão derrotar o projeto de morte que governa nossas vidas, tempo e espaço. Com um pouco de inveja e um tanto de desapego eu digo: tanto faz! Viverei nos coração de jovens que atualizam a luta popular e fazem surgir alternativas de bem viver. Insistir no que fizemos nos últimos 50 anos, com as mesmas lideranças seria um espelho que engana e imobiliza.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.
O Evangelho que nos convoca não cabe em cisternas
eclesiásticas e políticas, não se limita às lideranças organizadas dos
movimentos que já somos. A sede da gente não se satisfaz com mediações
organizativas que - mesmo necessárias! – distanciem a fonte da sede.
Na sede dos pequenos e das invisíveis criaturas vivas
na sociedade e no planeta reaprendemos o método e esperança. Tomamos nossa
parte... e alargamos nossa sombra e repartimos o que de graça recebemos: paixão
pela vida! poder repartido! deus conosco!
Bençãos arRUAHneiras!
ResponderExcluirCompartilhando das palavras vivas!
Caminhemos ...
Depois do exílio a reconstrução: Silêncio, suor e vitória!
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