terça-feira, 9 de março de 2021

Me diz sua vida e recebe a minha! receitas e roseiras necessárias de vencer a morte

 

Peço licença a Cora Coralina e um dos seus poemas para organizar o que ainda está grudado na pele e no ouvido pedindo síntese desses tempos tão difíceis. São cultivos de humanidade, manejos da gente mesmo, reforma agrária do chão das nossas relações e organizações. Depois de 1 ano de distanciamentos, perdas e “lives”, reuniões e trabalho remoto: o que aprendemos? no que ficamos melhores? o que temos a oferecer à luta urgente da defesa da vida e da terra?

 O poema Aninha e suas pedras  vai dizendo e eu vou pensando alto como se quisesse conversar com vocês.                                                                                                              

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

 

Querem nos destruir... não há nenhum fatalismo ou vitimismo nessa afirmação. Há um projeto político em curso que quer destruir as formas organizadas de resistência, exterminar os coletivos de organizar o mundo, fazer desaparecer as comunidade de afirmação de direitos, diversidade e beleza. Nossa primeira resolução e oração é: não vamos ser destruídas.

Reconhecemos nossas fragilidades e oscilações mas reconhecemos também a nossa capacidade histórica de resistência e de construção de processos políticos desde a base, po-éticas novas. Afirmamos nossa sebedoria aprendente: de avaliar e fazer  crítica e autocrítica. Nosso ajuntamento de ação e a capacidade organizativa, de mística e de utopia movedora de futuros. Não abrimos mão da luta presencial: agregamos o espaço virtual com antecipação e espera.

 

Recria tua vida, sempre, sempre. 

As relações sociais de partilha, de conhecimento e exposição ao diferente faz das nossas vidas, nossas “lives”, nossas trocas virtuais e “ao vivo” um laboratório vivo de testemunhos e experiências que se oferece como estrutura e mediação para a pergunta - até quando ? como podemos vencer?  – e a afirmação – não passarão!

Precisamos ir fazendo um processo coletivo de sistematização não de experiências acabadas, mas de processo de organização consciente, de processos e metodologias para o enfrentamento do fascismo, dos fundamentalismos e do capitalismo exterminador. Abençoadas nossas conversas virtuais e seus movimentos de escutar e dizer, receber e dar, explicitar conceitos, visualizar núcleos de sentido da  prática e as vias de respiração da narrativa. Como vamos juntar tudo isso? Uma “live” + outra “live” vira o que depois? Como criamos acúmulos aprendentes?

Tudo e cada isso precisa ir gerando consensos para além dos temas: estas nossas conversas, vídeos e seminários precisam ir buscando as formas da sistematização recriadora capaz de gerar a “frente de massas” que precisamos ser.


Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

 As “lives” e as coisas ditas, mostradas, trazidas e suas promessas. O que as pessoas – homens e mulheres – sabem fazer e dizer e o desejo de  dialogar mais importante do que ser ouvido. Trocar com o mundo para mudar o mundo! Remover as pedras que isolam os movimentos e organizações e aprender a fazer doces com o que vamos aprendendo e sistematizando.

As trocas materiais e simbólicas que vão acontecendo durante a pandemia como movimento de preciosos músculos do coletivo, do organismo social vivo, pensante, orante e tomador de decisões. Palestras, celebrações, cursos, debates: as trocas estabelecidas em momentos definidos. 

Me diz sua vida e recebe a minha! Receitas e roseiras necessárias e cotidianas que dão consistência histórica e densidade política para o projeto popular e democrático, inclusivo e transformador que queremos saber ser e fazer. Quando e como vamos processar o que ouvimos e vimos? 

 

Recomeça.

 Somos nós: uns mais desistidos, outras mais insistidas, o que vai virando consenso é que é preciso recomeçar. Recomeçar: começar de novo o que já fizemos de um projeto popular, feminista, operário e camponês, do campo e da cidade, terra-pão-liberdade! Fazer desses encontros virtuais momento de espiritualidade e utopia: recomeçados/as venceremos!

 

Faz de tua vida mesquinha um poema.

As mesquinharias das relações ruins, dos poderes absurdos também nos rodeiam: ainda somos reféns de poderes não circulantes, de arrogâncias atropeladoras de processos. Mesquinharias de disputas de poder. Mesquinharias de tráfegos de influências que precisam ser de novo e de novo passadas pelo crivo da espiritualidade, dinâmica de crítica e de perdão que torna possível a vida comunitária.

Profecia e Poesia como estrutura e método do movimento popular e suas ambigüidades, entre o que é e o que deseja ser. Entender as “lives”  e os “ao vivo” como fila do povo e trabalhos de grupo que vão misturando “causo”, denúncia e profecia, numa crítica necessária e precisa sobre a conjuntura e nossas organizações (burocracia, hierarquias, mesquinharias, manias) e que só no exercício do poder popular pode ser elemento de constante recriação.


E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Nossos vivos e nossos mortos, nossas memórias de santas pessoas que vivem no coração de jovens.  Uma militância insistente vai se renovando sem tirar os olhos das marcas vivas e os nomes gritados como aprendizado. Pode que seja que minha geração já não será nem verá as formas de luta e reinvenção que vão derrotar o projeto de morte que governa nossas vidas, tempo e espaço. Com um pouco de inveja e um tanto de desapego eu digo: tanto faz! Viverei nos coração de jovens que atualizam a luta popular e fazem surgir alternativas de bem viver. Insistir no que fizemos nos últimos 50 anos, com as mesmas lideranças seria um espelho que engana e imobiliza.



Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.

Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

 

O Evangelho que nos convoca não cabe em cisternas eclesiásticas e políticas, não se limita às lideranças organizadas dos movimentos que já somos. A sede da gente não se satisfaz com mediações organizativas que - mesmo necessárias! – distanciem a fonte da sede.

Na sede dos pequenos e das invisíveis criaturas vivas na sociedade e no planeta reaprendemos o método e esperança. Tomamos nossa parte... e alargamos nossa sombra e repartimos o que de graça recebemos: paixão pela vida! poder repartido! deus conosco!


2 comentários:

  1. Bençãos arRUAHneiras!
    Compartilhando das palavras vivas!
    Caminhemos ...

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  2. Depois do exílio a reconstrução: Silêncio, suor e vitória!

    ResponderExcluir

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