quinta-feira, 25 de março de 2021

esperanças autoritarias

 



** múltipla escolha **

aqueles meninos que agitavam 

ramos nas ruas de Jerusalém bem! ... eles ‘tavam errados!

agitavam esperanças autoritárias,

se agitavam esperando 

- [ ] um salvador

- [ ] um rei

- [ ] um senhor

- [ ] uma saída para qualquer parte


e Jesus tentou explicar,

veio no simples sem erudição 

e nem montado 

- [ ] num cavalo

- [ ] num cargo

- [ ] numa campanha

- [ ] numa saída para qualquer parte


mas eram 

- [ ] conflitos contra o templo e o       mercado

- [ ] enfrentamentos com o exército de intervenção 

- [ ] paixão 

- [ ] evangelho

- [ ]  e cruz

- [ ] todas as respostas acima


não é domingo de ramos

mas é domingo... e vamos!

terça-feira, 23 de março de 2021

a migalha debaixo da única mesa que não posso servir


Este texto foi desejado. Depois criticado, censurado e descartado. Finalmente recuperado e publicado.
Está fazendo 20 anos em março de 2021. Fala muito de mim e de nós: da teologia feminista que somos.
Escrevi a convite da organização do 14 Congresso Eucarístico que aconteceu em Campinas/SP em 2001. Aceitei com gratidão e empenho. Pesquisei, elaborei, estudei e apresentei o texto.
A avaliação não foi boa! Pediram para mudar tanta coisa que... não dava pra fazer. Diziam que o texto não se encaixava com a proposta do Congresso Eucarístico. 
O texto ficou interrompido.
Foi então que o grupo de Católicas pelo Direito de Decidir resolveu assumir o desafio e publicar o texto apesar de tudo. E foi assim que descobrimos na prática que a teologia feminista é ecumênica - macro, pluri, hiper, tudo - ou não será.

O livreto termina com um poema que denuncia "a única mesa" que as mulheres não podem servir: a eucarística. 20 anos depois ainda estamos denunciando a fome do povo e a falta de democracia e direitos nas igrejas. Muita coisa mudou: estamos mais fortes, mais ecumênicas e mais autônomas. 

EUCARÍSTICA

Coma-me!
Este é o meu corpo:
prato-me
parto-me 
pão.
Eis-me bocado
Memória de mim.

Beba-me!
este é o meu sangue;
verto- me
en-torno-me
Vinho.
Eis-me embebida
Memória de mim.

Toma-me!
esconda-me
renda-me
toalha-me
encolha-me
cala-me.
Sem memória de mim
eu como a migalha
debaixo da única mesa
que não posso servir.

- texto completo: 
https://catolicas.org.br/wp-content/uploads/2021/01/publicacao-cotidianos-sacramentos.pdf

 

quarta-feira, 10 de março de 2021

desaprender "para tramar um feminismo descolonizado e não-burguês"


disseram que não podia e pode

disseram que não daria e dá

disseram que não alcançava, tomamos

disseram que era pouco, vai sobrar

mentiram que éramos fracas, não somos

sugeriram que tão sensíveis, o necessário

fixaram um molde e padrão, não há

marcaram um destino de mãe: decido!

na horizontal me disseram passiva: me atiro

na vertical  me convém ser gentil: só se eu quero

no fim das contas me queriam calada: eu grito

presa fácil me queriam sozinha, sou muitas

e não ando só!

 "Não se enfrenta o patriarcado individualmente. É preciso estar em coletivo, em movimento, em comunidade. Sobretudo, é preciso um feminismo “de las mujeres de los pueblos”.

https://outraspalavras.net/blog/para-tramar-um-feminismo-descolonizado-e-nao-burgues/




terça-feira, 9 de março de 2021

Me diz sua vida e recebe a minha! receitas e roseiras necessárias de vencer a morte

 

Peço licença a Cora Coralina e um dos seus poemas para organizar o que ainda está grudado na pele e no ouvido pedindo síntese desses tempos tão difíceis. São cultivos de humanidade, manejos da gente mesmo, reforma agrária do chão das nossas relações e organizações. Depois de 1 ano de distanciamentos, perdas e “lives”, reuniões e trabalho remoto: o que aprendemos? no que ficamos melhores? o que temos a oferecer à luta urgente da defesa da vida e da terra?

 O poema Aninha e suas pedras  vai dizendo e eu vou pensando alto como se quisesse conversar com vocês.                                                                                                              

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

 

Querem nos destruir... não há nenhum fatalismo ou vitimismo nessa afirmação. Há um projeto político em curso que quer destruir as formas organizadas de resistência, exterminar os coletivos de organizar o mundo, fazer desaparecer as comunidade de afirmação de direitos, diversidade e beleza. Nossa primeira resolução e oração é: não vamos ser destruídas.

Reconhecemos nossas fragilidades e oscilações mas reconhecemos também a nossa capacidade histórica de resistência e de construção de processos políticos desde a base, po-éticas novas. Afirmamos nossa sebedoria aprendente: de avaliar e fazer  crítica e autocrítica. Nosso ajuntamento de ação e a capacidade organizativa, de mística e de utopia movedora de futuros. Não abrimos mão da luta presencial: agregamos o espaço virtual com antecipação e espera.

 

Recria tua vida, sempre, sempre. 

As relações sociais de partilha, de conhecimento e exposição ao diferente faz das nossas vidas, nossas “lives”, nossas trocas virtuais e “ao vivo” um laboratório vivo de testemunhos e experiências que se oferece como estrutura e mediação para a pergunta - até quando ? como podemos vencer?  – e a afirmação – não passarão!

Precisamos ir fazendo um processo coletivo de sistematização não de experiências acabadas, mas de processo de organização consciente, de processos e metodologias para o enfrentamento do fascismo, dos fundamentalismos e do capitalismo exterminador. Abençoadas nossas conversas virtuais e seus movimentos de escutar e dizer, receber e dar, explicitar conceitos, visualizar núcleos de sentido da  prática e as vias de respiração da narrativa. Como vamos juntar tudo isso? Uma “live” + outra “live” vira o que depois? Como criamos acúmulos aprendentes?

Tudo e cada isso precisa ir gerando consensos para além dos temas: estas nossas conversas, vídeos e seminários precisam ir buscando as formas da sistematização recriadora capaz de gerar a “frente de massas” que precisamos ser.


Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

 As “lives” e as coisas ditas, mostradas, trazidas e suas promessas. O que as pessoas – homens e mulheres – sabem fazer e dizer e o desejo de  dialogar mais importante do que ser ouvido. Trocar com o mundo para mudar o mundo! Remover as pedras que isolam os movimentos e organizações e aprender a fazer doces com o que vamos aprendendo e sistematizando.

As trocas materiais e simbólicas que vão acontecendo durante a pandemia como movimento de preciosos músculos do coletivo, do organismo social vivo, pensante, orante e tomador de decisões. Palestras, celebrações, cursos, debates: as trocas estabelecidas em momentos definidos. 

Me diz sua vida e recebe a minha! Receitas e roseiras necessárias e cotidianas que dão consistência histórica e densidade política para o projeto popular e democrático, inclusivo e transformador que queremos saber ser e fazer. Quando e como vamos processar o que ouvimos e vimos? 

 

Recomeça.

 Somos nós: uns mais desistidos, outras mais insistidas, o que vai virando consenso é que é preciso recomeçar. Recomeçar: começar de novo o que já fizemos de um projeto popular, feminista, operário e camponês, do campo e da cidade, terra-pão-liberdade! Fazer desses encontros virtuais momento de espiritualidade e utopia: recomeçados/as venceremos!

 

Faz de tua vida mesquinha um poema.

As mesquinharias das relações ruins, dos poderes absurdos também nos rodeiam: ainda somos reféns de poderes não circulantes, de arrogâncias atropeladoras de processos. Mesquinharias de disputas de poder. Mesquinharias de tráfegos de influências que precisam ser de novo e de novo passadas pelo crivo da espiritualidade, dinâmica de crítica e de perdão que torna possível a vida comunitária.

Profecia e Poesia como estrutura e método do movimento popular e suas ambigüidades, entre o que é e o que deseja ser. Entender as “lives”  e os “ao vivo” como fila do povo e trabalhos de grupo que vão misturando “causo”, denúncia e profecia, numa crítica necessária e precisa sobre a conjuntura e nossas organizações (burocracia, hierarquias, mesquinharias, manias) e que só no exercício do poder popular pode ser elemento de constante recriação.


E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Nossos vivos e nossos mortos, nossas memórias de santas pessoas que vivem no coração de jovens.  Uma militância insistente vai se renovando sem tirar os olhos das marcas vivas e os nomes gritados como aprendizado. Pode que seja que minha geração já não será nem verá as formas de luta e reinvenção que vão derrotar o projeto de morte que governa nossas vidas, tempo e espaço. Com um pouco de inveja e um tanto de desapego eu digo: tanto faz! Viverei nos coração de jovens que atualizam a luta popular e fazem surgir alternativas de bem viver. Insistir no que fizemos nos últimos 50 anos, com as mesmas lideranças seria um espelho que engana e imobiliza.



Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.

Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

 

O Evangelho que nos convoca não cabe em cisternas eclesiásticas e políticas, não se limita às lideranças organizadas dos movimentos que já somos. A sede da gente não se satisfaz com mediações organizativas que - mesmo necessárias! – distanciem a fonte da sede.

Na sede dos pequenos e das invisíveis criaturas vivas na sociedade e no planeta reaprendemos o método e esperança. Tomamos nossa parte... e alargamos nossa sombra e repartimos o que de graça recebemos: paixão pela vida! poder repartido! deus conosco!


sábado, 6 de março de 2021

Comer da Terra sem devorar o Mundo - vontades coletivas, políticas desejadas e espiritualidades radicais




1-Na pandemia a terra não descansou!

Num documento assinado por mais de 300 organizações de proteção de direitos humanos e da terra a afirmação principal é: o setor da mineração continuou mantendo sua atividade e seus lucros apesar da pandemia.

1.      as corporações mineradoras decidiram ignorar as ameaças reais da pandemia e continuam operando, usando todos os meios disponíveis (…) para classificar a mineração como "um serviço essencial";

2.      Governos  e empresas de todo o mundo estão tomando medidas extraordinárias para silenciar protestos legítimos (…)

3.      As empresas mineradoras estão usando a pandemia como uma oportunidade para encobrir seu histórico sujo de destruição (…)

4.      Governos e políticos estão garantindo mudanças regulatórias - suspendendo a pouca supervisão e monitoramento ambiental [1];

 

A terra não descansou… ao contrário!

 

O Agronegócio cresce durante a pandemia e fica mais atraente. O setor brasileiro se destacou em meio à recuperação econômica e durante a crise da COVID-19. Câmbio valorizado e capacidade de exportação tornam as empresas brasileiras do agronegócio mais atraentes para os investidores estrangeiros.[2]

 

A finaceirização da natureza não somente lucra com a pandemia mas faz parte do metabolismo de produção da pandemia: que setores como a mineração e agricultura extensiva e intensiva não tenham parado com a pandemia mas tenham ampliado sua capacidade política e conômica representa uma normatização da enfermidade global e sua banalização:

Na América Latina, o novo epicentro da pandemia, a destruição foi particularmente grave. Com a economia global praticamente parada, o agronegócio na região continuou funcionando com total impunidade, aprofundando seu impacto e os danos que causa a comunidades e ecossistemas.[3]

 

Movimentos camponeses, indígenas, comunidades tradicionais e organizaçoes ambientais em todo o mundo denunciam (1) o oportunismo dos setores extrativistas em assegurar lucros e proteger negócios sem considerar a necessidade de repensar o modelo global de trânsito de commodities e os impactos na precarização da saúde pública; (2) a negligencia dos governos na manutenção das estratégicas reservas públicas de alimentos num quadro de agravamento da fome a nível global.

O coronavírus pode levar o mundo a outra “pandemia”: (…) A fome no mundo deve mais do que dobrar em 2020, segundo a ONU (World Food Programme). A alta global dos preços é reflexo de como o coronavírus intensificou a disputa por comida.[4]

 


Assim, se houve um time-out forçado e global não funcionou do mesmo modo para toda a sociedade e muito menos para a Terra - o planeta – e os Territórios – lugar de vida das comunidades: a terra continuou sendo explorada de modo extensivo e intensivo.

O time-out que precisamos NÃO pode se referir ou se reduzir a um acidente, um destino não planejado, uma reação forçada por agentes externos. A pausa, o descanso e o sossego  que precisamos experimentar – tanto no corpo pessoal, como no corpo social e no corpo do mundo – precisa ser fruto de vontades coletivas, políticas desejadas e espiritualidades radicais.

Porque não será uma concessão ou um acaso inesperado, precisamos também de time-out com os significados de quebra, ruptura, fratura como expressão política, cultural e espiritual de uma vontade coletiva, de acordos plurais das maiorias de interromper a boca dentada do capitalismo.

 

https://diplomatique.org.br/edicao/edicao-162/

2-Sábado: vontades coletivas, políticas desejadas e espiritualidades radicais

A tradição bíblica poderia contribuir nesta busca e criação de um “tempo de descanso”. Nas palavras do agora saudoso biblista latino-americano Milton Schwantes:

Para uma vida digna em meio aos jardins criados por Deus, é preciso “viver de modo sabático”. Ao se descansar abrem-se as janelas de novos mundos, para a sociedade, a fim de se superar a espoliação de pessoas e animais.

 

Uma leitura bíblica atenta e motivada pelas resistência e alternativas dos povos da terra - camponeses, indígenas, comunidades tradicionais – tem sido importante na recuperação horizonte camponês da literatura bíblica[5] – em disputa com a ritualização do Templo e o controle do Estado[6].

A criação no Gênesis bíblico é um processo criativo que estabelece ciclos e alternâncias, contrários e simultaneidades que apontam necessariamente para o descanso: em Gênesis (1.1-2, 4) a própria criação efetiva o sábado como descanso; aliás, ele é parte da própria criação. É partilhado pelo Deus criador e por suas criaturas, pessoas e animais.[7]

Deus descansa não como resultado ou fim do processo criativo: o descanso é parte do processo, dinâmica essencial da criação recriando-se continuamente. Uma demarcação de tempo que recria o espaço: e Deus viu que tudo era bom. Este tempo de descanso é o lugar da contemplação do processo criado e em criação, é a qualidade de tempo interrompido que permite avaliar a qualidade do espaço e garantir não só seu funcionamento mas também sua “bondade”, sua capacidade criativa de fazer o que é bom. O Sábado não serve para nada… a não ser este respiro vital para seguir criando.

            Aqui se revela a noção de que a criação é o espaço de vida para todos os elementos do universo e que, além da necessidade de intervenção constante no ambiente, há a necessidade de tempos de pausa, de descanso, de ócio. Um famoso pensador judeu se expressou dizendo que o “sábado da criação abre o mundo para a eternidade”.[8]

 

A provável origem do sabbath a partir da cultura agro-pastoralista cananéia[9] ajuda a estabeler relações com a vida cotidiana e seus modos de “fazer e viver” em que os momentos de trabalho coletivo precisavam de uma interrupção criativa como parte do processo de reprodução da vida do grupo humano, dos animais e da vegetação. Esta prática de vida na terra e com a terra se expressa na “guarda” do sábado, na separação de um dia em que tudo suspende seus afazeres e contempla, e nomeia: é bom! Este descanso é também criador da teologia, isto é, deixa espaço para que a comunidade celebre na terra e com a terra a motivação e ordem criadora da vida. Neste sentido, o descanso não só é parte da criação, mas o descanso cria Deus; esta pausa intencional, que recria as condições de vida,  cria o espaço da celebração e da nomeação do sagrado na terra e na vida. Não cumprir com este pausa significa morte.

"Em seis dias façam os seus trabalhos, mas no sétimo cessarás para que o seu boi e o seu jumento possam descansar (yanûaj), e o seu escravo e o estrangeiro renovem as forças (yinnafeš).” Êxodo 23, 12

"Trabalhe seis dias, mas descanse (tišbot); no sétimo; tanto na época de arar como na da colheita.” Êxodo 34:21

Em seis dias se fará todo o trabalho, mas o sétimo dia lhes será santo, um sábado de descanso consagrado ao Senhor (šabat šabbatôn leyahveh); todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá. Êxodo 35:2

 

 

3-Espiritualidade e mecanismos sociais de descanso: de sábados e jubileus

 

Existe uma insistência na dimensão necessária do descanso em diferentes escalas de tempo: o sábado na organização da semana e o sábado na organização do calenário ampliado na forma do ano sabático:

Também seis anos semearás tua terra, e recolherás os seus frutos;

Mas ao sétimo a dispensarás e deixarás descansar, para que possam comer os pobres do teu povo, e da sobra comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival. Êxodo 23:10 e 11

 

O ano sabático recria a pausa semanal em escala ampliada; no final de sete anos, por todo um ano, a terra descansa porque os campos são deixados sem cultivo, mas também para se cuidar dos pobres e dos animais, para remissão das dívidas e para os escravos israelitas serem libertos como no Deuteronômio 15:

v. 1-3: perdão de dívidas a cada 7 anos.

v. 4-6: se o povo ouvir a Palavra de Deus, não haverá pobres.

v. 7-11: se há pessoas pobres, você deve emprestar-lhes

v. 12-18: sobre a libertação dos escravos[10]

 

O mesmo vai se dar em escala ampliada de 50 anos (7 X 7) com o ano Jubileu no Levítico 25:

v. 8-22: “Eles declararão santo o ano 50 e proclamarão a libertação na terra para todos os seus habitantes. Será um Jubileu para vocês: cada um recuperará sua propriedade e cada um retornará à sua família” (v.10).

Consequências da santidade destes anos: v. 23-55

a) resgate de propriedades: v.23-34

a terra: v.23-28

a casa: v.29-34

b) resgate de escravos: v.35-55

 

O sábado é sabedoria dos povos na relação com a terra, fruto da convivência e dos saberes da necessidade de não exaurir, não extenuar, não esgotar a capacidade recriadora: comer da terra sem devorar o mundo!

O sábado em suas diversas escalas temporais responde a dois desafios básicos: a necessidade de entender as necessidades da terra e a capacidade de criar mecanismos de resolução das desigualdades sociais. Neste sentido, os textos bíblicos precisam ser lidos a partir do chão, da terra, da agricultura e suas espiritualidade. A agricultura é parte de um conjunto de conhecimentos estabelecidos e metabolizados por grupos sociais na relação com a natureza. Este corpo de conhecimentos é constituído pelas formas de trabalho, de lazer, de mística, de produção de valor e de encantamento que são muito mais complexas que somente os processos de produção, distribuição e consumo.

 



Desafio pós-pandemia: os direitos da natureza e soberania alimentar

A pandemia do COVID 19 veio para ficar. Mesmo com as respostas sanitárias e vacinas possíveis a realidade dos excessos do capitalismo como exaustão das condições de vida no planeta veio para ficar e precisam ser enfrentadas.  As vontades coletivas e as políticas desejadas para este novo tempo exigem de nós rupturas com os ciclos de doença e lucro e também a busca de espiritualidades radicais que afirmem o direitos da natureza[1]. Reconhecer os Direitos da Natureza, significa passar de uma abordagem antropocêntrica a uma sociobiocêntrica com o objetivo de ampliar o entendimento de Direitos Humanos com novas gerações de direitos, neste caso os Direitos da Natureza, como parte da emancipação permanente dos povos[2].

“A Natureza tem muito a dizer, e já está na hora de nós, seus filhos, não continuarmos a nos fazer de surdos. E talvez até Deus escute o apelo que ressoa a partir deste país andino – o Equador – e acrescente um décimo primeiro mandamento que foi esquecido nas instruções que nos deu no Monte Sinai: ‘Amarás a Natureza, da qual fazes parte’”. [3]

O outro desafio vital é este de manter as panelas, os pratos e os corpos num diálogo constante. Fazer política de corpo e território. Em todo o mundo os movimentos camponeses e populares, em espacial de mulheres, entenderam o estrangulamento das condições de reprodução da vida, as ameaças sanitárias e o aumento da desigualdade social provocando caos e fome. As cozinhas comunitárias, os mutirões de vizinhança, a distribuição de alimento ligando campo-cidade são os materiais mais preciosos da solidariedade necessária para defender a vida das comunidades pobres, resgatar valores de humanidade e de luta classista: é amor!

Nancy Cardoso

Universidade Metodista de Angola



[1] ACOSTA, Por uma Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Reflexões para a ação,  https://www.ecodebate.com.br/2011/03/31/por-uma-declaracao-universal-dos-direitos-da-natureza-reflexoes-para-a-acao-artigo-de-alberto-acosta/ (acesso 6/1/2021)

[2] NACIONES UNIDAS, ASAMBLEA GENERAL, Armonía con la Naturaleza, Informe del Secretario General, 2018, https://undocs.org/pdf?symbol=es/A/73/221 (acesso 8/1/2021)


 

Nancy Cardoso

Universidade Metodista de Angola



[2] CARRIERI, Agribusiness grows in pandemic, becomes more attractive, https://anba.com.br/en/agribusiness-grows-in-pandemic-becomes-more-attractive/ (acesso 6/1/2021)

[3] BOLETIM WRM, Agroimperialismo em tempos de Covid-19, 17 jul, 2020, https://wrm.org.uy/pt/artigos-do-boletim-do-wrm/secao1/agroimperialismo-em-tempos-de-covid-19/ (acesso 6/1/2021)

[4] RIVEIRA, Carolina, O coronavírus pode levar o mundo a outra “pandemia”: o aumento da fome, 13 set 2020, https://exame.com/mundo/o-coronavirus-pode-levar-o-mundo-a-outra-pandemia-o-aumento-da-fome/, (acesso 6/1/2021)

[5] MANSILLA, Sandra Nancy (org), RIBLA (Revista de Interpretação Bíblica Latino Americana), n. 80. 2019, https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/Ribla/issue/view/519/showToc (acesso 8/1/2021); CARDOSO, VALENTIM, CARRIJO VIANA. BERNARDI (orgs.), Memória, Rebeldia e Esperança: dos pobres da terra e da Bíblia, 2015, São Leopoldo, CEBI

[6] RICHARD, Ya es tiempo de proclamar un jubileo, RIBLA n.33, 1999, https://www.centrobiblicoquito.org/images/ribla/33.pdf (acesso 6/1/2021); GALLAZZI, Jubileo: ¡Aquí y Ahora!, RIBLA n.33, 1999, https://www.centrobiblicoquito.org/images/ribla/33.pdf (acesso7/1/2021)

[7] SCHWANTES, op.cit.

[8] REIMER, A terra, os pobres, os animais: uma visão ecológica da vida (entrevista), out 2010, http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/3565-haroldo-reimer-1 (acesso 7/1/2021)

[9] PROSIC, Annual Festivals in the Hebrew Bible I: Theoretical and Methodological Concerns, December 2010, Religion Compass 4(12), https://www.researchgate.net/publication/264412643_Annual_Festivals_in_the_Hebrew_Bible_I_Theoretical_and_Methodological_Concerns (acesso 6/1/2021)

[10] RIBLA n. 33, JUBILEO, 1999, https://www.centrobiblicoquito.org/images/ribla/33.pdf (acesso 9/1/2021)

[11] ACOSTA, Por uma Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Reflexões para a ação,  https://www.ecodebate.com.br/2011/03/31/por-uma-declaracao-universal-dos-direitos-da-natureza-reflexoes-para-a-acao-artigo-de-alberto-acosta/ (acesso 6/1/2021)

[12] NACIONES UNIDAS, ASAMBLEA GENERAL, Armonía con la Naturaleza, Informe del Secretario General, 2018, https://undocs.org/pdf?symbol=es/A/73/221 (acesso 8/1/2021)

[13]GALEANO, Eduardo, A natureza não é muda, https://appsindicato.org.br/?p=11998/#:~:text=E%20talvez%20at%C3%A9%20Deus%20escute,%2C%20da%20qual%20fazes%20parte'.&text=Durante%20milhares%20de%20anos%2C%20quase,direito%20de%20n%C3%A3o%20ter%20direitos (acesso 9/1/2021)